De acordo com um relatório de Yun Li para a CNBC, de acordo com o relatório de lucros do segundo trimestre de 2024 da Berkshire Hathaway, a holding multinacional americana fez um movimento surpreendente ao reduzir significativamente sua participação substancial na Apple durante o segundo trimestre deste ano. A empresa de 185 anos vendeu pouco mais de 49% de suas participações na gigante da tecnologia, uma ação notável dada a estratégia de investimento de longo prazo de Buffett. Apesar dessa redução, a Apple continua sendo a maior participação acionária da Berkshire. Essa tendência de desinvestimento faz parte de uma estratégia mais ampla, com a Berkshire vendendo mais de US$ 75 bilhões em ações no segundo trimestre, aumentando suas reservas de caixa para US$ 277 bilhões sem precedentes.
Anteriormente, Buffett reduziu a participação na Apple em 13% no primeiro trimestre. Em 4 de maio, a Berkshire Hathaway realizou sua Reunião Anual de Acionistas da Berkshire Hathaway de 2024. Warren Buffett, presidente e CEO da empresa, forneceu insights sobre a decisão da empresa de reduzir sua participação na Apple, sua maior participação.
Buffett começou reafirmando a filosofia fundamental de investimento da Berkshire Hathaway, que é tratar ações como participações de propriedade em empresas, em vez de meras commodities de negociação. Essa abordagem, influenciada pelos ensinamentos de Benjamin Graham em “The Intelligent Investor”, enfatiza a importância de entender e valorizar empresas em vez de especulação de mercado.
Buffett deixou claro que a decisão de reduzir a participação na Apple não era um reflexo de uma mudança na visão deles sobre a qualidade dos negócios da Apple. Na verdade, ele reiterou que a Apple continua sendo um negócio excepcionalmente forte e valioso, comparável a outras participações de longo prazo, como Coca-Cola e American Express.
A principal razão para reduzir a participação da Apple, de acordo com Buffett, está na abordagem da Berkshire Hathaway à alocação de capital. Ele explicou que, embora eles vejam a Apple como um negócio que eles querem continuar a possuir, também é prudente para a Berkshire ocasionalmente realizar ganhos com seus investimentos, especialmente em um ambiente tributário favorável.
Buffett enfatizou o papel das considerações fiscais na tomada de decisões. A Berkshire Hathaway vendeu ações em um momento em que a taxa de imposto federal sobre ganhos de capital era de 21%, o que é historicamente baixo em comparação com taxas anteriores que chegaram a 52%. Dadas as políticas fiscais atuais e o potencial para futuros aumentos de impostos, Buffett sugeriu que faz sentido obter alguns lucros agora em vez de arriscar taxas de impostos mais altas no futuro.
Outro fator que influenciou a venda foi a atratividade de manter uma forte posição de caixa. Buffett mencionou que, apesar dos fortes fundamentos da Apple, as atuais condições de mercado e o ambiente econômico global tornam a retenção de caixa uma decisão estrategicamente sólida. Esse dinheiro pode ser usado para investimentos futuros ou oportunidades que possam surgir.
Buffett também abordou a filosofia da Berkshire Hathaway sobre pagamento de impostos. Ele ressaltou que a Berkshire não evita pagar impostos e vê suas contribuições fiscais como apropriadas e necessárias, dados os benefícios e oportunidades que o país proporcionou à empresa e seus acionistas. No ano passado, a Berkshire pagou mais de US$ 5 bilhões em impostos federais, e Buffett não expressou preocupação sobre continuar a fazer contribuições fiscais significativas no futuro.
Apesar da redução, Buffett garantiu aos acionistas que a Apple continuaria sendo uma parte substancial do portfólio da Berkshire Hathaway. A empresa pretende manter seus principais investimentos na Apple, Coca-Cola e American Express, a menos que algo extraordinário mude sua estratégia de alocação de capital.
No entanto, a escala dessa recente liquidação sugere fatores adicionais em jogo além das considerações fiscais. O momento coincide com uma alta significativa no preço das ações da Apple, que subiu 23% no segundo trimestre após um declínio no primeiro trimestre devido a preocupações com a inovação da IA. Esse aumento aconteceu quando a Apple forneceu mais detalhes sobre sua estratégia de IA.
Várias razões potenciais podem explicar esta decisão:
- Preocupações com alta avaliação: As ações da Apple se valorizaram significativamente, levando a uma alta avaliação de mercado. Investidores, incluindo a Berkshire, podem ver isso como um momento oportuno para realizar ganhos.
- Diversificação e Gestão de Riscos: A Apple depende muito do iPhone para mais da metade de sua receita, expondo a empresa a flutuações de mercado e mudanças nas preferências do consumidor. Reduzir a exposição para mitigar esses riscos pode ser uma estratégia prudente.
- Riscos de mercado e geopolíticos: A Apple enfrenta intensa concorrência e tensões geopolíticas, principalmente entre os EUA e a China, o que pode impactar suas operações e participação de mercado.
- Desafios regulatórios e legais: A Apple está sob escrutínio por questões regulatórias e legais, como acusações de práticas comerciais injustas e preocupações com a privacidade do usuário. Esses desafios podem afetar o sentimento do investidor.
- Estratégia de realização de lucros: Aumentar as reservas de caixa sugere uma mudança estratégica para aumentar a liquidez, preparando-se para investimentos futuros ou incertezas econômicas.
- Cenário empresarial em evolução: A Apple está se expandindo para novas áreas, como streaming de conteúdo de vídeo e serviços financeiros, enfrentando forte concorrência. Esses empreendimentos apresentam riscos de execução e incertezas.
Embora a Apple continue sendo uma empresa altamente lucrativa com um forte desempenho financeiro e um ecossistema robusto, essas fraquezas potenciais e pressões externas fornecem contexto para a decisão da Berkshire Hathaway de reduzir sua participação. Apesar de vender uma parte substancial, a Apple continua sendo uma parte significativa do portfólio da Berkshire, refletindo a confiança contínua nas perspectivas de longo prazo da empresa.
Esta decisão é parte de um padrão mais amplo de Buffett reduzindo suas principais participações, incluindo reduções recentes nas ações do Bank of America. A onda de vendas ocorreu durante um trimestre em que o S&P 500 atingiu recordes, impulsionado pelas expectativas de um “pouso suave” para a economia dos EUA.
As ações da Berkshire Hathaway (ações classe A) fecharam em US$ 641.435,00 na sexta-feira, queda de 0,86% no dia.
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